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Clos de l'Obac


16/07/2024


O Priorat é uma das mais das mais fascinantes regiões vinícolas da Espanha. Tem uma longa tradição no cultivo de uvas e elaboração de vinhos, por conta da atuação de ordens religiosas a partir do século XIII. Porém, desde a chegada da filoxera à região, no século XIX, a vinicultura de qualidade havia sido praticamente abandonada.

A retomada ocorreu somente na década de 1980, quando cinco famílias pioneiras apostaram no incrível terroir local e decidiram elaborar vinhos de alta gama. E um destes pioneiros foi Carles Pastrana, que, juntamente com sua esposa Mariona Jarque, criou a Clos de l’Obac, vinícola até hoje reconhecida como um dos grandes nomes desta região espanhola.


História


Atuando como jornalista do vinho, Carles e sua esposa realizaram a primeira colheita em 1989, com seu vinho pioneiro, que leva o nome da vinícola, sendo lançado em 1991. Cientes da qualidade, não faltou ousadia. Os vinhos locais vendiam a um valor equivalente a € 0,10 por litro, mas os Pastrana lançaram seu primeiro vinho a 400 pesetas. Este valor era algo como € 32, preço próximo na época àquele de um dos ícones do vinho espanhol, o Vega Sicilia. O resultado não surpreendeu: não venderam uma garrafa sequer.

Porém, a maré mudou a partir de 1992. Em uma degustação às cegas com outros vinhos europeus de alta gama organizada pela publicação francesa Gault & Millau, o Clos de l’Obac ficou entre os melhores. Ele também alcançou ótima avaliação em outras provas às cegas em 1993 e 1994, batendo alguns dos grande Châteaux do Bordeaux. O caminho estava aberto.


Vinhedos e variedades    


Atualmente a Clos de l’Obac conta com cerca de 24 hectares de vinhedos, cultivados de forma orgânica. Os vinhedos, 100% próprios, estão distribuídos entre 10 variedades, incluindo cepas autóctones ou de longa presença na área, assim como uvas internacionais. As uvas tintas, como Garnacha, Tempranillo, Cabernet Sauvignon, Merlot, Carignan e Syrah são protagonistas. Porém, há também parcelas menores das brancas Garnacha Blanc, Xarel-lo, Macabeo e Moscatel de Alexandria.

Os vinhedos são quase inteiramente compostos pelos característicos solos de ardósia, chamados localmente de llicorella. São duas propriedades distintas, Clos del'Obac e Mas d'en Bruno, a última adquirida em 1993. Por conta disso, há uma certa variedade de solos, pois cada da região tem composições diferentes. Há vinhas muito velhas (perto de 90 anos), mas a maioria engloba plantios da época da criação da vinícola.


Vinificação


Todos os vinhos contam com uvas de colheita manual, utilizando uma metodologia que persiste desde a primeira safra. Chamada pela Clos de l’Obac de Coupage Fixo, ele se caracteriza pela utilização das mesmas castas e na mesma proporção, independentemente das condições de cada safra.  Para os tintos, as uvas passam por co-fermentação em tanques de inox, com uso de leveduras selecionadas e maceração curta. Os vinhos fazem estágio em barricas de carvalho francês novas, com longo tempo de permanência em garrafas (até nove anos) antes do lançamento.

Para Guillem Pastrana, filho de Carles e atual responsável pela vinícola, este sistema de vinificação torna especialmente interessante a realização de provas verticais. Além disso, esta filosofia permite que os vinhos cheguem ao mercado “prontos para o consumo”. Por exemplo, em 2023 houve o lançamento do Clos de l'Obac 2013.


Vinhos


A Clos de l’Obac elabora seis vinhos, dos quais dois deles (Usatge Tinto e Usatge Blanco) apenas se as uvas não forem aproveitadas pelos demais. No total, são cerca de 50 mil garrafas ao ano, o que coloca a Clos de l’Obac dentro de um plano artesanal, onde a qualidade tem um papel maior que a quantidade.

Dentre os quatro vinhos de maior destaque, um é branco e o outro de sobremesa. O Kyrie é um corte de 35% Grenache, 30% Macabeo, 30% Xarel-lo e 5% Moscatel de Alexandria. As uvas provêm da propriedade de Mas d’en Bruno e passam por rápido contato com as cascas após prensagem. É um vinho intenso e sedutor, que chama a atenção pela profundidade e elegância.

Já o Dolç de l'Obac, um vinho tinto de colheita tardia, não é lançado todas as safras. Para obter o alto patamar de açúcar (geralmente na faixa de 60 gramas por litros), a fermentação é interrompida por conta das baixas temperaturas as quais o vinho é sujeito (em torno de 3 graus negativos). É um vinho que harmoniza muito bem com chocolate e charutos.

O Miserere, com produção na faixa de 15 mil garrafas ano, também conta com uvas da propriedade de Mas d’en Bruno. É um corte de Garnacha, Cabernet Sauvignon, Ull De Llebre (nome da Tempranillo na Catalunha), Merlot e Carignan. Uma parte importante das videiras, sobretudo Granacha e Tempranillo, são vinhas velhas. É um vinho potente, mas considerado mais mineral que o Clos de l’Obac.

Por fim, o Clos de l’Obac, com produção em linha com a do anterior, conta com uvas da propriedade de mesmo nome. É um corte de 35% Garnacha, 35% Cabernet Sauvignon, 10% Shiraz, 10% Merlot e 10% Carignan. Vinho mais conhecido da vinícola, é potente, estruturado e complexo, com enorme capacidade de guarda.


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